O medo da morte é uma queixa que aparece com bastante frequência num consultório psiquiátrico. Geralmente aparece associado à ansiedade, à inquietação da mente em relação ao futuro incerto e inexorável, a tudo aquilo que parece fugir do controle! A morte representa o ápice da entropia, da impotência e do desamparo. A Bíblia não está errada ao chamá-la de “nosso último inimigo”! Interessante que a mente saudável é justamente aquela que consegue ignorar essa realidade tão palpável, priorizando a fragilidade e o efêmero ao tocar a vida como se a morte não estivesse sempre à espreita.
Não é tarefa tão fácil assim. Que mãe é capaz de dormir tranquila sabendo que o filho na UTI pode morrer a qualquer momento? Que esposo consegue controlar a angústia sabendo que a esposa está lutando contra um câncer intratável e terminal? E todos não podemos morrer a qualquer momento?
Por outro lado, o desejo de morte ou vontade de morrer, talvez seja ainda mais frequente nos consultórios! Como a mente humana consegue ser tão contraditória? Uns querendo fugir e enganar a morte, enquanto outros anseiam pela “liberdade” que ela representa. O fim de toda dor e sofrimento, o descanso final.
A verdade é que as pessoas só chegam a ansiar a morte por entendê-la como uma solução para uma vida ruim. No fundo não querem a morte, querem fugir da vida.
A morte sendo um tema tão misterioso, vem instigando a humanidade há séculos. De um ponto de vista naturalista, a própria religião seria uma criação da humanidade para lidar melhor com o sofrimento psíquico causado pela morte. Schopenhauer, o pessimista filósofo alemão, escreveu: “O animal vive sem um verdadeiro conhecimento da morte: por isso, o indivíduo animal desfruta diretamente de toda a imortalidade da espécie, na medida em que tem consciência de si mesmo apenas como ser sem fim. No homem, o surgimento da razão trouxe necessariamente consigo a assustadora certeza da morte. No entanto, como na natureza para todo o mal há sempre um remédio ou, pelo menos, um substituto, a mesma reflexão que provocou o conhecimento da morte também nos conduz a formular opiniões metafísicas que nos consolam a respeito, e das quais o animal não necessita nem é capaz de ter”.
Desta forma, a metafísica seria o consolo por se ter consciência. Triste, não? O naturalismo realmente tira completamente o sentido da vida. Entretanto, não é estranho o ser humano, aquele criado à imagem e semelhança de Deus, ser exatamente a única espécie com consciência da própria morte? Não seria essa uma evidência de que não nascemos para morrer e que a morte é um desvio, uma estranha não convidada, uma situação que não pode ser definitiva?
Caminhos perigosos
A lição desta semana fala de misticismo, necromancia, espiritismo e reencarnação. Tudo extremamente perigoso do ponto de vista cristão, mas tenho a impressão que a maior parte das pessoas hoje não está muito nessa vibe. Eles flertam com esses assuntos apenas como forma de entretenimento: uma brincadeira para passar o tempo. Alguns talvez até aceitem algum tipo de vida após a morte, mas isso não chega a tomar muita forma. Trata-se de um agnosticismo neopanteísta com traços de paganismo do qual imagino não sair muito conforto na hora da morte. Me parece mais um jeito carpe diem de se evitar pensar na morte, mais um reflexo da nossa sociedade confusa, imediatista e hedonista.
Porém, talvez o caminho que me assuste mais dentre as veredas tortas de nossa sociedade é a crença de que, através da ciência, seremos capazes de desafiar a morte. Seja por meio de clonagem, seja por meio da transferência de nossa consciência para inteligências artificiais, seja por meio do controle do desgaste dos telômeros em nossos cromossomos ou da cura do câncer, segundo os cientistas, a geração que está nascendo agora talvez não conheça a morte. Há pessoas que estão gastando rios de dinheiro em técnicas ainda não comprovadas de hibernação para, quem sabe, serem ressuscitadas dentro de alguns anos nessa nova utopia.
A verdadeira esperança
Todos esses caminhos tiram o foco da verdadeira esperança: a ressurreição bíblica. E tiram foco do verdadeiro esforço: a pregação do evangelho eterno - a maravilhosa graça de Cristo que perdoa, liberta e dá sentido à vida. Que fez cristãos ao longo de toda a história dizerem como Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” II Tim 4:7-8. “Pra mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” Filipenses 1:21. Nós cristãos não precisamos temer a morte, nem precisamos desejá-la por que a nossa vida aqui tem uma utilidade! E depois? Bom, depois é uma outra história! É muita coisa boa que a gente nem faz ideia.
Referências
SCHOPENHAUER, Arthur. Da morte; Metafísica do amor; Do sofrimento do mundo. São Paulo: Martin Claret, 2004.