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Antidepressivos viciam?

Essa talvez seja uma das perguntas que eu mais ouço no consultório diariamente. Trata-se de uma pergunta legítima, já que o uso dessas medicações vem crescendo consideravelmente nas últimas décadas.

Os motivos para o aumento com certeza são variados, mas considerando o contexto mais recente, vinculado às repercussões da pandemia do covid-19, é compreensível que as pessoas estejam se sentindo mais inseguras. O mundo mudou e as pessoas ainda não sabem o que esperar dele. Estimativas da Anxiety and Depression Association of America apontam que, hoje, 18% da população americana estaria sofrendo de algum grau de Transtorno de Ansiedade e quase 8% apresentaria depressão.

Faz sentido pensar que no Brasil não seja diferente, já que foram 100 milhões de caixas de antidepressivos vendidas em todo o ano de 2020 - um aumento de 17% na comparação com o ano anterior. E esse número segue aumentando - em 2021 as vendas foram 14% maiores. A perspectiva não é de redução: o mercado global de drogas antidepressivas representa 18,1 bilhões de dólares e estimativas sugerem que pode quase duplicar em menos de uma década.

É de se suspeitar que a existência de dependência nesse tipo de medicação seja algum tipo de interesse sórdido da indústria farmacêutica. Porém, apesar de a indústria farmacêutica realmente merecer críticas pelo seu modus operandi, esse não é realmente o caso aqui.

As evidências atuais nos permitem afirmar com bastante certeza que os antidepressivos não viciam. Não há dependência química nesse tipo de droga. Trata-se de um grande mito que precisa ser desconstruído e desestimulado.

Antidepressivos não “dão barato”. De maneira geral, demoram para demonstrar seu efeito (mais de uma semana) e o uso “recreativo” praticamente inexiste. São usados apenas no contexto do tratamento da depressão e da ansiedade e, geralmente, apenas naqueles casos considerados moderados ou graves.

Um bom médico, sensato e humanizado, levará em conta muitos critérios na hora de prescrevê-los: perfil de efeitos colaterais, custo, interesses e medos pessoais. Da mesma forma, deverá ter muito cuidado na hora de retirá-los. Muito do medo das pessoas em utilizar antidepressivos acontece justamente por conta de relatos de conhecidos que, contra as orientações médicas, pararam bruscamente e passaram mal. Dizem que sentiram “abstinência”. O uso aqui da palavra abstinência, entre aspas, é para frisar categoricamente que isso não existe. Não há fissura após alguns dias sem as medicações, nem qualquer mudança de comportamento por parte do usuário no sentido de adquirir desesperadamente mais comprimidos. Há sim o que chamamos de síndrome de descontinuação - um conjunto desagradável de sintomas ocasionado pelo desequilíbrio na oferta de neurotransmissores relacionados ao prazer (serotonina, noradrenalina, dopamina), e que pode ser evitado se o médico realizar a retirada de forma gradual e lenta, o que popularmente é conhecido como “desmame”.

Obviamente, muitas pessoas podem desenvolver algum grau de dependência psicológica das drogas que usam, mas isso é uma possibilidade em relação a qualquer tipo de remédio e até comportamento/pessoas. Podem se sentir inseguras e por isso, adiar o momento da retirada. Não dá pra chamar isso de vício. Mesmo assim, tal realidade precisa ser propriamente trabalhada no consultório e resolvida através de decisão compartilhada.

Por isso, se você apresenta um quadro de depressão e ansiedade moderado ou grave, considere com a mente aberta o uso de uma medicação antidepressiva. Elas ajudam a controlar os sintomas, potencializam a terapia e contribuem para a moticação na mudança de hábitos.




Referências




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