top of page
Foto do escritorDr. Brunelli

Por que mais gente hoje é diagnosticada como bipolar?

Recentemente tenho me feito muito essa pergunta. Na minha prática diária, essa suspeita diagnóstica tem aparecido com cada vez mais frequência. Seria por que tenho me interessado bastante pelo assunto e lido mais referências sobre o tema? Estaria eu diagnosticando mais por conta de um viés de leitura? Não acho e vou explicar para vocês o porquê.

É fato que o aumento nos diagnósticos de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) vem sendo observado com preocupação por pesquisadores no mundo todo. Não é por menos: de 1990 para cá, a proporção estimada de bipolares na população americana subiu de 1 para 25%. Mais de 4000% de aumento! Difícil não torcer o nariz e duvidar dos psiquiatras e da indústria farmacêutica.

Entretanto, embora concorde que realmente possa haver alguma iniquidade nesses números, há uma mudança recente na compreensão dos médicos sobre como se desenvolve o transtorno que é válida e coloca a segurança do paciente em mais alta conta: o conceito de Espectro Bipolar.

Antigamente, para um psiquiatra poder decidir sobre a ocorrência de bipolaridade em um paciente, era absolutamente necessário se certificar da ocorrência de um episódio de mania ou hipomania. Para quem não sabe, esses episódios são mudanças no humor caracterizadas por euforia, impulsividade, irritabilidade, megalomania e comportamento de risco (gastos desnecessários, exposição sexual desprotegida, brigas e conflitos, etc). Na história natural do TAB um episódio de mania pode demorar décadas para acontecer - geralmente só é percebido, principalmente em mulheres, por volta dos quarenta, cinquenta anos.

Obviamente, a demora no diagnóstico não quer dizer que o indivíduo com TAB e as pessoas que convivem com ele não possam já ser prejudicados cotidianamente por quadros, digamos assim, mais discretos. Sem falar num dos maiores riscos que uma pessoa com tendência à bipolaridade, hoje em dia, está exposta: a prescrição de antidepressivos (ADs). Como hoje se prescreve esse tipo de droga com muito mais facilidade, muitas vezes sem muito cuidado e desconsiderando os critérios corretos, é possível que muita gente esteja abrindo episódios de mania de forma muito mais precoce por iatrogenia - erro médico mesmo. E não se engane, o risco não é pequeno. Estudos mostram que há inclusive aumento no risco de suicídio nesses casos.

Alguns sintomas têm sido apresentados como marcadores de tendência - comportamentos que quando presentes aumentariam a chance do diagnóstico. São eles: depressões intensas e longas em pacientes adolescentes e jovens adultos, irritabilidade constante, “altos e baixos” com muita frequência, ocorrência de depressão pós-parto, histórico familiar e aumento de ansiedade/irritabilidade após uso de antidepressivos.

Não são sintomas tão difíceis de achar. Considerando que esses pacientes têm risco aumentado de serem diagnosticados com TAB, compensa muito iniciar o tratamento precocemente.

Se você já iniciou e parou o tratamento de depressão muitas vezes, sempre volta a ter episódios depressivos intensos, já respondeu a alguma antidepressivo com irritabilidade e se incomoda com alguns surtos de impulsividade, acho que valeria a pena rever seu diagnóstico. Que tal marcar uma consulta?


Referências


Hauser, M., Pfennig, A., Özgürdal, S., Heinz, A., Bauer, M., & Juckel, G. (2007). Early recognition of bipolar disorder. European psychiatry, 22(2), 92-98.


Malhi, G. S., Bargh, D. M., Coulston, C. M., Das, P., & Berk, M. (2014). Predicting bipolar disorder on the basis of phenomenology: implications for prevention and early intervention. Bipolar disorders, 16(5), 455-470.


15 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page